
Pequeno guia prático para compreender o conceito e ajudar na estratégia de combate
Toda a gente fala de Inflação. De palavra esquecida passou, nos últimos meses, a fazer parte do léxico dos portugueses. E neste momento é uma preocupação para todos!
A inflação encontra-se em níveis nunca atingidos nas últimas décadas e os consumidores questionam-se sobre por quanto tempo mais terão de suportar esta situação.
Deverão pedir um aumento de ordenado para a combater?
Mas se a inflação não afeta só particulares, também empresas, um aumento dos custos de produção, nomeadamente do trabalho, poderá levar a aumentos do preço de venda dos seus produtos, o que conduziria a uma espiral inflacionária de consequências imprevisíveis.
O que podem fazer os consumidores e como se devem preparar as famílias para próximos tempos e para possíveis aumentos da inflação?
A DECO preparou este pequeno guia para o ajudar a compreender o que estamos a atravessar e como definir uma estratégia de combate e prevenção para posteriores choques inflacionistas.
O QUE É A INFLAÇÃO?
Numa economia de mercado como a portuguesa existem variações diárias de preços dos bens e serviços. Mas para existir inflação deve ocorrer um aumento generalizado dos preços dos bens e serviços.
O indicador mais usado para medir a inflação é o IPC – Índice de Preços no Consumidor, que avalia a evolução dos preços de um conjunto de bens e serviços considerados representativos da estrutura de consumo da população residente em Portugal.
Não se trata de um indicador de nível de preços entre períodos diferentes, mas sim de síntese sobre a variação dos preços no consumidor ao longo do tempo.
A medida da inflação é a taxa de inflação, expressa em percentagem.
A INTERVENÇÃO DAS AUTORIDADES MONETÁRIAS
As autoridades monetárias competentes, como sejam os bancos centrais, têm o poder de tomar medidas para manter a inflação a níveis razoáveis.
Para promover o “arrefecimento” da economia e com ele a redução da inflação, os bancos centrais podem aumentar as taxas de juro.
Foi o que aconteceu nos Estados Unidos da América (EUA) e mais recentemente na União Europeia (UE), com o Banco Central Europeu a decidir aumentar a taxa de juro diretora em 50 pontos base (ou 0,5 pontos percentuais).
Mas aumentar as taxas de juro não melhorará a inflação da noite para o dia.
De acordo com recentes previsões e no melhor dos cenários, os preços devem permanecer em alta até ao final do ano. Todos temos de nos preparar para o pior cenário.
IMPACTO DA INFLAÇÃO NO BOLSO DOS PORTUGUESES
Um aumento súbito de preços tem um efeito dominó em toda a economia.
A inflação pode ter diversas origens e deve-se a vários fatores, surgindo perante um aumento da Procura, como aconteceu no pós-pandemia com o incremento no consumo, mas também, com guerra na Ucrânia, com a pressão no aumento dos custos de produção, do lado da Oferta.
A inflação tem também a ver com a moeda. Quando a inflação sobe, tal equivale a uma quebra do poder de compra. A inflação faz diminuir o valor da moeda ao longo do tempo, reduzindo o poder de compra.
Assim, quando há inflação e aumento de preços, com o mesmo dinheiro compramos menos.
Tal significa que um cesto de produtos que uma família compra hoje por um determinado preço, amanhã estará mais caro. Ou seja, com cada euro comprará amanhã menos do que hoje. Necessitará de mais dinheiro para comprar os mesmos produtos.
Por outro lado, a perda de poder de compra tem um grande impacto no custo de vida de todos e cada um de nós e consequências no próprio desenvolvimento económico.
Imagine um ordenado de 1000€ e uma inflação anual de 10%. Daqui a um ano o seu vencimento equivalerá a 900€, pelo que comprará menos bens ou serviços do que hoje.
Nos depósitos bancários, por exemplo, uma aplicação de 20000€ com a mesma inflação implicará que, daqui a um ano, terá o equivalente a 18000€.
A INFLAÇÃO NA ZONA EURO
Na área do euro é utilizado o IHPC – Índice de Preços Harmonizado no Consumidor, que é calculado pelo Eurostat.
Este índice permite fazer comparações entre os países da área euro e da UE e recolhe os preços dos bens e serviços para os respetivos “cabazes” dos vários países. Integra 295 categorias de bens e serviços, sem deixar de refletir as diferenças nos padrões de consumo dos vários países que integram aquela área.
Na área euro a taxa de inflação anual em junho de 2022 foi de 8,6%, enquanto que nos países da União Europeia foi de 9,6%.
A inflação nos países do euro (IHPC em junho 2022)

A INFLAÇÃO OFICIAL VERSUS INFLAÇÃO PESSOAL
Pessoas diferentes compram coisas diferentes. Cada família tem hábitos de consumo diferentes: alguns viajam de carro e comem carne, outros usam transporte público outros ainda são vegetarianos.
Os hábitos de consumo médios determinam qual o peso dos diferentes produtos e serviços no cálculo da inflação.
Para medir a inflação em Portugal é utilizado um “cabaz” que inclui os principais bens e serviços que as famílias residentes consomem, incluindo por exemplo habitação, alimentação e bebidas, vestuário e calçado, eletricidade e gás, transportes, saúde ou educação. O peso de cada um destes bens no “cabaz” é, contudo, objeto de diferente ponderação: a eletricidade tem mais peso do que o café ou o açúcar, por exemplo.
A taxa de inflação oficial anual é o preço deste “cabaz” num determinado mês, comparado com período homólogo, ou seja, o mesmo mês do ano anterior.
Por exemplo, em junho de 2022 a taxa de inflação anual em Portugal foi de 8,7%, que compara com o mês homólogo do ano anterior, ou seja, junho de 2021.
A INFLAÇÃO PESSOAL OU DE CADA AGREGADO FAMILIAR
A inflação impacta na vida de todos nós e a inflação oficial pode ser diversa da inflação pessoal.
No orçamento das famílias têm mais peso os preços dos bens comprados com mais frequência. Tal explica porque muitas famílias percecionam a sua inflação atual como sendo superior à inflação oficial.
E quanto menor for o rendimento das famílias maior peso terá o aumento de preços que se tem vindo a sentir nos bens e serviços, nomeadamente nos bens essenciais e energia.
O aumento nos preços do gás e da eletricidade atingiram de forma mais acentuada as famílias mais pobres, em que estes gastos representam em média 10% a 12 % das despesas totais, ou seja, três vezes mais do que essa rúbrica representa no orçamento das famílias com mais altos rendimentos.
Para definir um plano e estratégia para combater a inflação e tomar medidas, cada família deve começar por fazer um diagnóstico financeiro. Para tal, deve utilizar a ferramenta orçamento familiar para calcular a sua inflação pessoal.
Podemos medir a nossa inflação pessoal através da comparação do aumento dos nossos gastos de um período para outro, seja mensal, semestral ou anualmente.
Calcule aqui a sua taxa de inflação pessoal
ELABORAR UM DIAGNÓSTICO FINANCEIRO
Muitas vezes o nosso padrão de vida obriga à alteração dos hábitos de consumo, o que terá efeito no nosso orçamento familiar.
Faça um orçamento e identifique os seus principais gastos e rendimentos.
Depois, caso o saldo do seu orçamento mensal seja negativo ou próximo de zero, reflita cuidadosamente: poderá reduzir algumas despesas? Deverá desde logo identificar os gastos essenciais e os gastos não essenciais ou supérfluos. No curto/médio prazo poderá agir sobre estes e cortar alguns, se necessário.
CALCULAR A TAXA DE ESFORÇO
Não se esqueça de identificar as responsabilidades de crédito que detém e calcular a taxa de esforço, ou seja o peso das prestações de crédito no seu rendimento líquido. Idealmente deveria ser inferior a 35%. Caso seja superior, tente reduzir as prestações de crédito. Contacte a instituição de crédito e tente baixar as prestações. A DECO poderá ajudá-lo na busca de solução.
REEQUILIBRAR O ORÇAMENTO FAMILIAR
A carne e o peixe aumentaram, as atividades extra dos filhos, o combustível e as idas ao restaurante estão mais caras.
Sem tentar perder qualidade de vida, procure alterar hábitos e comportamentos que ajudarão no combate à inflação.
Deixamos aqui algumas dicas que o poderão ajudar nesta tarefa:
POUPAR NO SUPERMERCADO E NAS DESPESAS ESSENCIAIS
A fatura alimentar tem um peso considerável no orçamento familiar, situando-se entre 35 a 40% do total das despesas. Os preços dos bens alimentares aumentaram fortemente, a dois dígitos, precedidos por um longo período de relativa estabilidade, o que leva a fundados receios de acréscimo de pobreza e dificuldades acrescidas, mesmo em famílias que antes não experienciavam tal quadro.
Faça um orçamento para a ida ao supermercado e procure cumpri-lo.
Pesquise preços e promoções. Aproveite descontos dos cartões de fidelização.
Compre fruta e legumes da época nas mercearias locais e defina refeições semanais, comprando de acordo com as necessidades e evitando desperdício.
POUPAR NOS SEGUROS E SERVIÇOS FINANCEIROS
Analise o número de contas bancárias que tem. Precisa mesmo de todas?
Se puder, opte pelos serviços mínimos bancários, poupando dezenas de euros em comissões.
Faça também uma análise qualitativa dos créditos que tem e pondere libertar- se de alguns.
E quantos cartões de crédito detém? Paga anuidade? Faça uma análise e reduza-os ao mínimo necessário.
Para quem tem crédito à habitação com taxa de juro variável, peça simulações para a eventualidade de passar a taxa fixa ou mista ou de transferir o empréstimo para outro banco.
Se tiver um “pé-de-meia” pondere amortizar alguns créditos se a taxa de juro das aplicações que detiver não compensarem a inflação e tiverem uma rentabilidade abaixo do juro que paga pelo empréstimo.
Avalia regularmente o seu extrato bancário?
Se tem créditos sabe qual a taxa de juro (TAEG) que está a suportar? Será possível reduzir algumas dessas taxas?
Faça ainda uma análise aos seus seguros. Há cartões de crédito com seguros associados que porventura nem se lembra que tem e de que poderá beneficiar
Verifique se não tem seguros duplicados ou se não tem coberturas para eventuais riscos que poderão ser importantes. Faça uma pesquisa de mercado para reduzir eventuais prémios dos seguros, se possível.
Aconselhe-se com a DECO, contacte o seu banco e outros bancos e avalie alternativas.
REDUZIR DESPESAS COM A HABITAÇÃO E ASSOCIADAS
As despesas que se prendem com a casa, sejam a renda de casa ou a prestação de crédito habitação, são gastos que provavelmente não conseguirá reduzir no curto prazo.
Mas algo poderá fazer e desde já: refletir sobre o futuro. Poderá reunir a família e avaliar da possibilidade de rever os seus hábitos e optar por um estilo de vida mais sustentável e que, a prazo, lhe trará não só melhor qualidade de vida como diminuição de gastos.
Para muitos consumidores e casais a opção pelo teletrabalho já é uma realidade.
Uma solução viável para alguns poderia passar por vender o apartamento na cidade e comprar um imóvel na aldeia ou fora dos grandes centros urbanos. Poderia, por exemplo, investir numa casa, não necessariamente mais pequena, mas certamente mais sustentável, que permitiria reduzir gastos, não só ao nível da fatura energética ou da água, como da alimentar, com uma pequena horta para agricultura de subsistência, ou até reduzir gastos em combustível, etc., etc.
Cada família deverá avaliar a sua situação e procurar soluções que permitam viver bem com menos e manter estável a sua situação financeira.
Por exemplo, a opção por um carro elétrico em vez de dois carros do casal poderá também ser uma escolha mais rentável para algumas famílias e cujo investimento poderia ter retorno no médio prazo.
PARA REFLETIR
A melhor forma de combater o aumento da inflação poderá passar por “regressar ao básico” e viver de forma mais sustentável no médio-longo prazo, considerando formas de reduzir despesas e/ou aumentar o rendimento.
Organização, rigor e disciplina exigem-se na gestão das finanças pessoais.
Os tempos são de incerteza quanto ao futuro, mas também são de resiliência e renovação.
As mudanças que estamos a vivenciar exigem que saibamos responder a mais este desafio, depois de uma pandemia que a todos atingiu.
As famílias mais carenciadas e vulneráveis merecem um olhar especial por parte dos nossos governantes, chamados a mitigar os efeitos da crise e de uma possível recessão.
Mas para mitigar o seu impacto nas famílias algo estará nas nossas mãos: prevenir o sobre-endividamento e agir atempadamente será fundamental!
Se precisar de aconselhamento contacte o Gabinete de Proteção Financeira da DECO.
A inflação na área Euro: consulte aqui mais informação